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sábado, novembro 26, 2005 reencontro Há muito que não te via dizia-me, e olhava-me com o olhar de quem te conhece por dentro e por fora, perguntou-me por onde tinha andado, o que era feito de mim, e em breves segundos conseguiu perceber tudo sem que lhe tenha dito uma única palavra. O tempo não é importante - balbuciei-lhe, tentado fugir novamente ao olhar profundo que me deixava assustado. Respondeu-me pausadamente deixando-me tempo para respirar, disse-me que o tempo é importante, que só deixa de ser importante quando o aprendemos a gastar de forma proveitosa, de maneira a não darmos por ele, de forma a valer ouro. Como me conhece, sabe que estou a fugir - pensei. E sorri-lhe. Deixei-me então levar pela lição que me queria dar a conhecer. Disse-me para fazer o que gosto de fazer, se me sinto bem assim, mas que o tempo continua a avançar e que esse não volta atrás, e se assim é, disse-me a sorrir, tens de colocar na cabeça que os problemas não se resolvem sozinhos, e que quanto mais tempo os deixares à solta mais fortes se tornam. Sabia muito bem a que é que se estava a referir, e estava a descrever em breves palavras os meus últimos meses. Não tinha resposta para lhe dar, não tinha uma justificação, uma frase com humor. Nada! Absorvia o que me dizia sem me mover. Parecia que os meus pensamentos eram ditos em voz alta, tal era a resposta sempre pronta que tinha, tentei então deixar de pensar e apenas ouvir, até que algo acertado me surgisse para responder. Não aconteceu. Falou-me dos cruzamentos da vida, as alturas em que temos de optar, aconselhou-me calma nesses momentos! Que saber esperar é uma virtude. - retorquiu. Explicou-me a importância que nós temos nas nossas decisões, por muito insignificantes que nos pareçam na altura. Tentou incutir-me a ideia que não decidir por vezes é a melhor decisão. Deixar a poeira acentar - dizia a sorrir com o velho humor que eu lhe conhecia. Falou-me sempre num tom sábio sobre a vida e sobre o mundo, sobre o passado e o futuro, deixando-me sempre tempo para absorver a ideia, sem esperar que lhe respondesse.E assim passámos algumas horas, sem que a minha voz se ouvisse, sem que se enganasse a meu respeito, com as ideias a ficarem retidas no meu pensamento como sábios conselhos. Fez-me prometer-lhe que nos voltariamos a encontrar num futuro próximo, mesmo que fosse apenas para lhe dizer - Está tudo bem! - mas só se assim fosse, pois não adiantaria mentir-lhe por palavras. O olhar não consegue mentir - foram as suas últimas palavras, e eu voltei a fechar o armário deixando o espelho novamente na escuridão... escrito por Rogério Junior às 20:39. |
Sobre mim Tenho 21 anos. Escrevo por gosto e por necessidade. Acredito nos sonhos e tenho alguns. Sou apaixonado pela Vida e pela Arte. Já escrevi poemas, canções e algumas palavras presas. Escrevo momentos. Alguns em delirio. Nunca editei um livro. Outros devaneios Momentos que leio
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setembro 2005 Diversos
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