quarta-feira, novembro 30, 2005


Transcrevendo (parte VIII)

Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para os corrigirmos é a força do destino. Apercebermo-nos dos erros é um castigo pesado. Seria muito mais fácil considerarmo-nos bons e culparmos os outros todos, encontrando consolação na ilusão da vitória sobre o destino. Mas mesmo essa felicidade não me é dada.

Alexander Puschkine, in 'Diário Secreto'

escrito por Rogério Junior às 22:51.



cultos...

Tenho de confessar que nunca li nenhum livro do Saramago, por muita pena minha que deve ser genial, ou não seja ele o Mui Nobre Prémio Nobel, mas nunca me apeteceu, embora os tenha mesmo à mão, abrir um e começar a ler. O mesmo não posso dizer deste único, há algum tempo que estou para o adquirir, o titulo parece-me fantástico - "As intermitências da Morte". Espero não me decepcionar. E é essa mesma morte que é um mistério nunca desvendado, motivo tabú para quase toda a população e algo tão complexo como a própria vida.
Todos nós sabemos que um dia lá iremos parar, embora não gostemos de falar disso, é certo. Talvez a única certeza que temos, e a que sempre ignoramos. E a ignoramos com prazer, pois deixar este mundo que conhecemos (se é que o deixamos) é algo que abominamos. Mas essa mesma morte, tem requintes deveras próprios que muitas vezes esquecemos. Não a morte em si, mas todo o ritual que se faz, aqui na cultura portuguesa pelo menos, em volta desta. Tenho muita pena de não poder um dia assistir ao meu próprio funeral, as mais belas palavras sobre mim serão ditas nesse dia, tenho a certeza. As pessoas com uma lágrima no olho esquecerão todos os meus defeitos e lembrar-se-ão de todos os meus grandes feitos! Esquecerão o quanto não me amaram enquanto vivos, o quanto não me respeitaram e me acarinharam e lembrar-se-ão dos meus pequenos gestos e como eu era uma pessoa querida. Tenho pena que esta cultura em que me insiro (e que sou vitima - ler devaneio imediatamente abaixo) faça o culto aos mortos e não aos vivos. Ninguém sabe, e acredito que nunca saberão, para onde vamos depois de deixarmos o corpo terrestre, mas mesmo assim não se assume esse facto como certo e se presta mais às pessoas enquanto vivas.
E eu, assumo, muitas vezes caio nesse erro, o de não celebrar a vida com quem eu amo, o de não aproveitar os pequenos nadas, o de deixar para amanhã...
Tenho mortos comigo que ainda estão vivos, porque os preservo assim, porque há um pedaço de nós que fica sempre com eles, talvez por isso nunca lhes tenha colocado flores, embora não diga que nunca o farei, talvez por isso os recorde diáriamente, e fale deles sem problemas, sem tabús, porque estão vivos comigo,em espirito e em alma. Derramo lágrimas por eles porque não os poderei mais abraçar, porque sinto saudades, mas sei que eles estarão sempre comigo, assim como eu estarei sempre com eles.
Nunca procurei uma explicação para a morte, há mistérios que não devemos procurar desvendar... há-de chegar o dia em que os encaramos de frente, e nesse dia ninguém poderá fazer nada por mim... prefiro que me prezem enquanto vivo... assim tento eu fazer com o meu mundo...

escrito por Rogério Junior às 02:46.


terça-feira, novembro 29, 2005


As pessoas

As pessoas fascinam-me.
São seres mutáveis, vitimas de uma herança genética e de uma tendência cultural, fantásticos e únicos. Todos os dias lido com imensos desses seres e provavelmente é mesmo por causa disso que todos os dias me surpreendo e me sinto fascinado.
Conheço pessoas de todos os extractos sociais e de todos os tipos. Não me é possivel criar um estereotipo, ou muito menos julgar alguém pela carcaça (entenda-se aspecto fisico), seria incorrecto e mais, injusto!
Tenho a noção que as pessoas são mutáveis, jáo disse anteriormente, mas ainda me faz bastante confusão as pessoas dotadas de uma extrema mutação aquando na presença de certos outros seres. Em breves palavras poderia chamar-lhe de falta de caractér, mas não o faço porque penso que seja algo mais que isso, só ainda não compreendi bem o quê.
Todos nós nos moldamos às situações, ao grupo que nos envolve, às pessoas com quem estamos, é um facto. Mas há sempre algo em nós que se preserva, há aquele bocadinho de nós que é só nosso e que transparece mesmo sem querermos. E é tal coisa que não acontece com tais pessoas, dotadas de uma perspicacia extrema para sairem de si e encarnarem em outra, quase como personagens de ficção.
Acho fantástico!
E tal situação aconteceu ao pé de mim ainda há pouco (por isso este devaneio, talvez) e fiquei extasiado, é algo extremamente surpreendente quando observamos esse acontecimento, de um momento para o outro a pessoa não está mais ali, é outra. Nega os seus ideais, nega as outras pessoas , tal como Judas fez um dia, e submete-se ao que pensa ser o melhor para a continuação da vivência que está a ter no momento. É capaz de apostar a sua vida no que está a dizer (será que aposta a dela ou a da personagem?!) e reconhece tais palavras como a única verdade absoluta.
Ainda não consegui perceber como o fazem, se há aulas como as de teatro para tal façanha, se é genuino, se é necessário um esforço quase desumano... E o que também me estranha são os outros seres que rodeiam essa pessoa nesse exacto instante, será que não se apercebem, será que têm devaneios como eu mas em surdina... A mente humana é das coisas mais complicadas que existem no Universo, nunca a entenderei...
Sou a favor (tanto a favor que era capaz de fundar uma associação) que as pessoas se adaptem, que mudem, que vivam, que sejam mutáveis, que se integrem, que absorvam as outras que as rodeiam...
Mas que Sejam, que Existam, que Tenham...
Um bem haja às Pessoas... com P maiusculo!

escrito por Rogério Junior às 23:02.


sábado, novembro 26, 2005


reencontro

Há muito que não te via dizia-me, e olhava-me com o olhar de quem te conhece por dentro e por fora, perguntou-me por onde tinha andado, o que era feito de mim, e em breves segundos
conseguiu perceber tudo sem que lhe tenha dito uma única palavra.
O tempo não é importante - balbuciei-lhe, tentado fugir novamente ao olhar profundo que me deixava assustado.
Respondeu-me pausadamente deixando-me tempo para respirar, disse-me que o tempo é importante, que só deixa de ser importante quando o aprendemos a gastar de forma proveitosa, de maneira a não darmos por ele, de forma a valer ouro. Como me conhece, sabe que estou a fugir - pensei. E sorri-lhe. Deixei-me então levar pela lição que me queria dar a conhecer. Disse-me para fazer o que gosto de fazer, se me sinto bem assim, mas que o tempo continua a avançar e que esse não volta atrás, e se assim é, disse-me a sorrir, tens de colocar na cabeça que os problemas não se resolvem sozinhos, e que quanto mais tempo os deixares à solta mais fortes se tornam.

Sabia muito bem a que é que se estava a referir, e estava a descrever em breves palavras os meus últimos meses. Não tinha resposta para lhe dar, não tinha uma justificação, uma frase com
humor. Nada! Absorvia o que me dizia sem me mover. Parecia que os meus pensamentos eram ditos em voz alta, tal era a resposta sempre pronta que tinha, tentei então deixar de pensar e apenas ouvir, até que algo acertado me surgisse para responder. Não aconteceu.
Falou-me dos cruzamentos da vida, as alturas em que temos de optar, aconselhou-me calma nesses momentos! Que saber esperar é uma virtude. - retorquiu.
Explicou-me a importância que nós temos nas nossas decisões, por muito insignificantes que nos pareçam na altura. Tentou incutir-me a ideia que não decidir por vezes é a melhor decisão.
Deixar a poeira acentar - dizia a sorrir com o velho humor que eu lhe conhecia.
Falou-me sempre num tom sábio sobre a vida e sobre o mundo, sobre o passado e o futuro, deixando-me sempre tempo para absorver a ideia, sem esperar que lhe respondesse.E assim passámos algumas horas, sem que a minha voz se ouvisse, sem que se enganasse a meu respeito, com as ideias a ficarem retidas no meu pensamento como sábios conselhos.
Fez-me prometer-lhe que nos voltariamos a encontrar num futuro próximo, mesmo que fosse apenas para lhe dizer - Está tudo bem! - mas só se assim fosse, pois não adiantaria mentir-lhe por palavras.
O olhar não consegue mentir - foram as suas últimas palavras, e eu voltei a fechar o armário deixando o espelho novamente na escuridão...

escrito por Rogério Junior às 20:39.



Transcrevendo (parte VII)

A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras.
Hei-de vê-lo depois de despido de egoísmo, atente somente aos motivos gerais; o seu bem será sempre o bem alheio; terá como inferior o que se deleita na alegria pessoal e não põe sobre tudo o serviço dos outros; à sua felicidade nada falta senão a felicidade de todos; esquecido de si, batalhará, enquanto lhe restar um alento, para destruir a ignorância e a miséria que impedem os seus irmãos de percorrer a ampla estrada em que ele marcha.

Nenhuma vontade de domínio; mandar é do mundo das aparências, tornar melhor de um sólido universo de verdades; se tiver algum poder somente o veja como um indício de que estão ainda muito baixos os homens que lho dão; incite-o o sentir-se superior a mais nobre e rude esforço para que se esbatam e percam as diferenças; não aproveite para mostrar a sua força a fraqueza dos outros; o bom lutador deseja que o combatam mais rijos lutadores.
Será grato aos contrários, mesmo aos que veem armados da calúnia e da injúria; compassivo da inferioridade que demonstram fará tudo que puder para que melhorem e se elevem; responderá à mentira com a verdade e ao ódio com o bem; tenazmente se recusará a entrar nos caminhos tortuosos; se o conseguirem abater, tocará com humildade a terra a que o lançaram, descobrirá sempre que do seu lado esteve o erro e de novo terá forças para a luta; e se o aplaudirem pense logo que houve um erro também.

Agostinho da Silva, in 'Considerações e Outros Textos'

escrito por Rogério Junior às 18:17.


quinta-feira, novembro 24, 2005


o meu suposto futuro?

Atravessava eu a cidade pela noite como é habitual, num taxi, amarelo, decrepito, silencioso, que rasgava a avenida a uma velocidade estonteante.
Silêncio esse quebrado por umas palavras roucas - Vamos muito depressa? - Mal sabia o acelerado condutor que o meu pensamento ía muito mais veloz que o pobre carro...
Pensamento esse que se fez notar em todo o dia, como se pedisse, meigamente, para sair...

Conheci uma pessoa ontem que se assemelhava muito a um possivel futuro meu, se é que me faço entender.
É daquelas pessoas que se costuma dizer - ninguém a topa à distância - tal é a estranheza da capa que ostenta no dia a dia. E a essas pessoas gosto de dar uma oportunidade, de tentar perceber se o interior é igual ao exterior ou se algo interessa...
Fui estranhamente surpreendido, e aí é que o comecei a colocar como um possivel futuro meu. Um individuo culto e com algum bom gosto, tanto musical como de vestir. Algo diferente do normal é certo, com uma presença um pouco distante mas marcante. Apercebi-me num determinado momento que poderia aprofundar um pouco da sua vivência... assim foi.
Era uma pessoa marcada pela vida, que a certa altura descobriu que todos nós temos a ilusão de sermos especiais, de marcar o mundo com as nossas idéias, com a nossa forma de ser e estar, de um dia sermos uma peça marcante da sociedade em que vivemos... Mas descobriu também que nem todos são especiais, que a nossa vida não é o centro do mundo, que sonhos perdidos todos nós temos, e que mais vale enfrentar a realidade como ela é... Sermos apenas mais um.
Não originamos a sociedade, não fazemos que o mundo se mova conforme queremos. Apenas nos movimentamos como Ele quer... e acabou por se deixar sucumbir nessa idéia...

E acabei por perceber que se nada mudasse esse era o meu futuro...
Acordar um dia e descobrir que lutei toda a vida para ser O alguém e acabei por ser apenas UM alguém!
E é esse futuro que eu não quero para mim...
Que misturar-me com a multidão é optimo mas só enquanto temos o controlo de podermos sair desse marasmo quando quisermos...
Como diz um amigo meu (pessoa entendida no assunto, digamos) é possivel ver o futuro nas linhas da mão, e que essas mudam a cada seis meses.
Então é altura de começar um desses ciclos de seis meses e mudar a minha vida, bastante mais fácil enquanto somos jovens, para que seja possivel estruturar o destino e os sonhos de forma a não cair no fácil, no banal, na mistura da sociedade sem controlo.
Quantas vezes nos passa um hipotético futuro pela frente e nós sem perceber conversamos com ele, sentimos pena, dissertamos, sentimos compaixão e seguimos em frente?
Nunca nenhum de vós alguma vez se interrogou que daqui a uns tempos poderá outro alguém fazer o mesmo connosco?

É tempo de voar, de pousar, de reflectir, de avançar, de mudar, de esperar, de tentar, de procurar... de arriscar...

escrito por Rogério Junior às 22:12.


terça-feira, novembro 22, 2005


OutraParte

Li algures:

"A Pedra"

"O distraído tropeça nela.
O bruto usa-a como projéctil.
O empreendedor, usando-a, constrói.
O camponês, cansado do trabalho, faz dela assento.
Para as crianças, é brinquedo.
Para os poetas, é inspiração.
Com ela, David matou Golias.
E o artista concebe a mais bela escultura..."

Conclusões?

O mundo é igual para todos, mas cada um de nós o vê de uma forma diferente, moldando-o a uma realidade que nos parece certa e única.
Nunca encontrei uma pessoa que visse o mundo da mesma maneira que eu, talvez seja esse o segredo da OutraParte, talvez no dia que a encontrar o mundo seja visto por duas pessoas da mesma forma...
Ou é apenas uma ilusão de uma mente ainda jovem, utópica e sagaz...
Por enquanto vou seguindo o Caminho com a ideia de que existe algures uma OutraParte, uma Felicidade Suprema, um Amor Incondicional... que sonhar é cruel mas necessário...

escrito por Rogério Junior às 21:48.



Poemas (parte II)

Ando á deriva e não sei o porquê
mas contudo penso atingir o que não se vê
aquilo que não é premente, mas sim urgente
nesta urgência que é a vida,
onde o ter se sobrepõe ao ser e nos faz correr
num busca incessante, para saciar a nossa sede de viver.


Ai quem me dera poder tocar o infinito,
como quem liga um interruptor com a mesma simplicidade.
e, leveza de quem atravessa a linha do equador assim como
quem atravessa na passadeira.
E chegar a um ponto do qual nunca estive ausente,
como se fosse a primeira e última vez.

Nuno Cruz

Ultimamente ando sem inspiração... vou alimentando o animal (entenda-se blog) com preciosidades que me chegam ao e-correio!...

escrito por Rogério Junior às 17:44.



de um leitor...

"Sempre achei que tinha o mínimo de inteligência, até ter de te enfrentar, e no fim vences-me sempre tão facilmente, quase sem luta. Afinal és tu o inteligente aqui entre nós dois, pois sabes sempre por onde atacar, e por mais que eu o saiba, não sei defender-me..
Perante tudo e todos, eu defendo-te, jamais permito que alguém te possa acertar, pois não vivo sem ti.
Se se fores atingido, contigo morro também..
Mas graças a ti sou o que sou, graças a ti tornei-me forte.. a ti devo parte da minha personalidade, tu és o meu ser, a minha personalidade..
Amo-te, às vezes odeio-te, pois sei de antemão que vou perder, sofrer, ainda assim, o meu amor por ti, ignora tudo isso, aceita tudo isso, e não se arrependerá..
Um dia acertaremos contas.. I’ll be back.

Orgulho meu, orgulho meu, haverá alguém mais orgulhoso que eu?!"

Daúde Dulla


Percebe-se agora onde é que, na prosa, a técnica dá espaço à inspiração ?

escrito por Rogério Junior às 11:14.


domingo, novembro 20, 2005


Poemas (parte I)

Raramente procuro poemas para ler, prefiro as prosas, gosto que a técnica deixe algum espaço para a inspiração e tal acontecimento é difícil conciliar num poema...

Mas há excepções claro... e são esses poemas que me fascinam...

"Acordando"

Tudo parece estar diferente
Ocorreram mudanças a q não consigo ficar indiferente.
Só não mudou o meu coração, que não mente
Ao dizer que o sente.
Ao gritar que ainda te ama.
Ao desejar ver-te feliz
Ao ver os meus sonhos sozinhos, de novo, sem chama
E ao sentir saudades que nunca quis.

Aceitar que foste embora
E que apenas te posso ver…
“Dá pra ver nessa hora
Que o amor só se mede depois do prazer”

Agora já estou melhor, mas tu não pareces estar
Pior do que não me amares
Só mesmo não me conseguires falar.
E voltarmos àqueles velhos olhares
Que se fingem desconhecidos
E parecem tímidos demais para um simples “adeus”.
Mas no fundo só precisam de uns minutos perdidos
Para verem que os teus dias não são melhores que os meus

E assim vão continuar a ser.
Até ao dia em que te deixares de desvalorizar.
E perderes o medo de ver
Que, no fundo, amar não significa errar.
Nem esquecer.
Quem não sabe se merece amar.

Fica, felizmente, para recordação
Tudo o que nunca esperei mas sempre quis ter.
Não na cabeça (a memória às vezes falha), mas no coração
Para que possa sorrir quando não me apetecer.
Esperando, ao mesmo tempo, que seja apenas ilusão
A hipótese de não te voltar a ver.
E falar, se me derem essa tentação.

Um eterno obrigado
Que, como tudo, é pequeno em relação a ti.
Um ponto final, no livro inacabado.
Que em tempos te fez chorar…agora sorri.

BH

...


escrito por Rogério Junior às 19:35.


sábado, novembro 19, 2005


o silêncio


Quantas vezes optamos pelo silêncio, não porque as palavras nos fujam, mas porque temos medo de não conseguirmos, no calor do momento, optar pelas certas...
Quantas vezes optamos pelo silêncio, com medo do que a sua quebra vai originar...
Quantas vezes optamos pelo silêncio para evitarmos largar uma lágrima, deixando-a escorrer por dentro...
Quantas vezes optamos pelo silêncio e arrependemo-nos para sempre...
Quantas vezes optamos pelo silêncio para não haver em nós uma explosão que seja visível...
Quantas vezes optamos pelo silêncio e magoamo-nos demais...
Nessas alturas o silêncio não é ouro!




o silêncio é de ouro

Quantas vezes optamos pelo silêncio para encontrarmos a paz...
Quantas vezes optamos pelo silêncio e respondemos da melhor forma que sabemos...
Quantas vezes optamos pelo silêncio ao esboçar um sorriso genuino...
Quantas vezes optamos pelo silêncio porque as palavras não chegam...
Quantas vezes optamos pelo silêncio e sentimos em nós a confiança para enfrentar o mundo...
Quantas vezes optamos pelo silêncio para não perdermos o momento...
Nessas alturas o silêncio é de ouro!


escrito por Rogério Junior às 22:15.


sexta-feira, novembro 18, 2005


Já sei...

Sim, já sei!
Que me vão dizer... tu só ouves Palma...
Mas esta música hoje apareceu sem ser pedida... e como tal quase que se oferecia para ser partilhada...


Não é que o medo a impeça de ser quem é
Só não sabe lá muito bem como é que há-de ser
Não é que ela não aprecie aquilo que tem
Mas dá muito mais atenção ao que pode ter
Não é que o silêncio a aflija mais do que o Sol
Em qualquer dos casos ela acaba por se esconder

Não é que ela viva do sonho de ter alguém
Mas tem uma esperança guardada de ser feliz
Não é que ela não acredite em ser mulher
Mas se alguém a quer e a seduz ela não diz
Então ela troca as palavras e fecha a luz
E pensa outra vez que o amor lhe escapou por um triz

E ela vai e vem
Vai e vem
Deixa no banco tudo o que tem
Ela vai e vem
Vai e vem
Nos bastidores não vê ninguém

Não é que ela esteja encalhada junto ao farol
Mas tem uma vela pintada por outra mão
Não é que o vento a amachuque mais do que o Sol
Porque o vento é sempre mais fraco que a solidão
Como as certezas são mais caras que as opiniões
E quando ela olha para o leme não há capitão

E ela vai e vem
Vai e vem
Deixa no banco tudo o que tem
Ela vai e vem
Vai e vem
Nos bastidores não vê ninguém

escrito por Rogério Junior às 22:02.


quinta-feira, novembro 17, 2005


A Fábrica

Confesso que hoje abri esta folha em branco sem uma única ideia do que iria escrever, sem a explosão de outros momentos em delirio ou o sarcasmo de um ou outro momento sem delirio.
Deixei-a em branco algum tempo... e comecei-me a lembrar de uma festa que está a acontecer agora... é passada numa simulação de uma fábrica de sonhos... com pompa e circunstância...
Lentamente lembrei-me de outra... a "Fábrica dos Sonhos", uma fábrica, agora parada, de uma velha amiga... E essa criadora de sonhos escreveu-me um dia, há já alguns anos, um texto que não entendi na altura... Mas que fez sentido há bem pouco tempo... talvez vos sirva também... como ela diria... "até pode ser que agora de nada te siva... mas talvez um dia te identifiques com isto..." :

"O Bom Combate é aquele que é travado em nome dos nossos sonhos. Quando eles explodem em nós com todo o seu vigor - na juventude - nós temos muita coragem, mas ainda não aprendemos a lutar. Depois de muito esforço, acabamos por aprender a lutar, e então já não temos a mesma coragem para combater. Por causa disso, voltamo-nos contra nós e combatemo-nos a nós mesmos, e passamos a ser o nosso pior inimigo.
Dizemos que os nossos sonhos eram infantis, difíceis de realizar, ou fruto do nosso desconhecimento das realidades da vida. Matamos os nossos sonhos porque temos medo de travar o bom combate."
Posso continuar...? Eu posso continuar... e tu sabes que podes parar assim que te apeteça...
E aprendi que existem 3 sintomas para nos apercebermos que estamos a matar os nossos sonhos:

"O primeiro sintoma de que estamos a matar os nossos sonhos é a falta de tempo (...) As pessoas que conheci na minha vida tinham sempre tempo para tudo. As que nada faziam estavam sempre cansadas, n não davam conta do pouco trabalho que tinham de realizar, e queixavam-se constantemente que o dia era curto demais. Na verdade, elas tinham medo de travar o Bom Combate."

"O segundo sintoma da morte dos nossos sonhos são as nossas certezas. Porque não queremos olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a julgar-nos sábios, justos e correctos no pouco que pedimos da existência."

"Finalmente, o terceiro sintoma da morte dos nossos sonhos é a Paz. A vida passa a ser uma tarde de Domingo, sem nos pedir grandes coisas, e sem exigir mais do que queremos dar." "Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz (...) temos um pequeno período de tranquilidade.
Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e a infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a tornar-nos crúeis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e as psicoses. O que queriamos evitar no combate a decepção e a derrota - passa a ser o único legado da cobardia. E um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livre das nossas certezas, das nossas ocupações, e daquela terrível paz das tardes de Domingo."
E por fim...
" A única maneira de salvarmos os nossos sonhos, é sermos generosos com nós mesmos. Qualquer tentativa de autopunição - por mais subtil que seja, deve ser tratada com rigor. Para saber quando estamos a ser crúeis connosco, temos que transformar em dor física qualquer tentativa de dor espiritual: como culpa, remorso, indecisão, cobardia. Transformando uma dor espiritual em dor física, saberemos o mal que ela pode causar-nos."

Fim!

São algumas páginas de um livro de Paulo Coelho.
Faz sentido?

"Força... muita força... para seguir em frente neste caminho... onde o cume é a Felicidade e o troféu é um sorriso e uma grande lição de vida..."

escrito por Rogério Junior às 22:20.


quarta-feira, novembro 16, 2005


Transcrevendo (parte VI)

Somos subeducados, atrasados e analfabetos; e neste particular confesso que não faço grande distinção entre a ignorância do meu concidadão que não sabe absolutamente ler nada, e a ignorância do que apenas aprendeu a ler o que se destina a crianças e inteligências medíocres. Deveríamos estar à altura dos grandes da Antiguidade, mas em parte por saber primacialmente quão grandes eles foram. Somos uma raça de homens-passarinhos; nos nossos voos intelectuais mal nos alçamos um pouco acima das colunas do jornal.
Nem todos os livros são tão insípidos como os seus leitores. É provável que haja palavras endereçadas exactamente à nossa condição, as quais, se de facto pudéssemos ouvi-las e entendê-las, seriam mais salutares às nossas vidas que a própria manhã ou a Primavera, revelando-nos talvez uma face inédita das coisas.

Quantos homens não inauguraram uma nova etapa na vida a partir da leitura de um livro! Deve existir para nós o livro capaz de explicar os nossos mistérios e de revelar outros insuspeitados. As coisas que ora nos parecem inexprimíveis, podemos encontrá-las expressas algures.
As mesmas questões que nos inquietam, intrigam e confundem, foram postas por sua vez a todos os homens sábios; nenhuma foi omitida, e cada um deles respondeu de acordo com a sua capacidade, por meio de palavras ou da própria vida. De mais a mais, juntamente com a sabedoria aprendemos a liberalidade.

Henry David Thoreau, in 'Walden'

Boa ideia... ler um livro...

escrito por Rogério Junior às 22:39.



cansado...

De colocar a máscara todos os dias, de rir como se não houvesse amanhã e tentar viver com esse riso estampado no rosto. Mas rir não é sorrir, e o sorriso esse é cada vez mais distante. Este é sem dúvida um momento em delírio. Não me vou sequer importar. Estou cansado e cada vez mais cansado. O pensamento sempre a disparar, a vida que não me satisfaz e eu sem força para a mudar. Não quero ter pena de mim. Não cheguemos a tanto.
Preciso de algo e não sei o quê. è essa a confusão que se instalou neste momento em mim. A procura incessante do que eu preciso para conseguir sair deste marasmo. Que raiva que isso me faz. Não era mais fácil se bastasse abrir um livro e procurar a página certa? Menos proveitoso claro. Lá se ia o "viva o momento" e o "carpe diem" mas com isso posso eu bem. Agora só quero encomendar o livro supremo e procurar a frase que me descreve neste instante. Deixa lá ver o que é que vou fazer amanhã. Deixa lá ver se a mascara é para durar... que devo ter algum karma para cumprir... Deixa lá acreditar que as coincidências são mesmo coincidências, que isto está tudo escrito e que amanhã será melhor.
Sei bem que dizer que não se tem tempo é o primeiro passo para não se fazer nada e ter desculpa para tal.
Sei bem que para matar os sonhos basta apenas alguma perspicácia.
Sei bem que para rir basta mexer os lábios e toda a gente aprova.
Mas agora nada me basta, que agora estou em plena consciência que isso não é o que quero.
Vou voltar agora ao meu silêncio fantástico e engolir mais este momento. Colocar o Palma a tocar de forma a não ouvir mais nada. Acender mais um cigarro e fumar devagar. Desligar-me do mundo e voltar a repor... as ideias no lugar. Procurar um lugar para elas isso sim, procurar um lugar para mim e deixar andar, que daqui a nada a máscara volta ao seu antigo posto e já não se passa nada...

escrito por Rogério Junior às 20:43.



...


escrito por Rogério Junior às 18:40.



Viver Mata

Estava eu nas minhas deambulações nocturnas, com o pensamento a mil como de costume, quando dei por mim sentado num banco de jardim, cigarro em riste, perna cruzada e olhar pensativo a reflectir sobre o maço de cigarros pousado ao meu lado. Lê-se "Fumar Mata". Esqueceram-se foi do asterisco, para escrever em letras menos garrafais "Viver Mata". Não quero com isto dizer para se começar a fumar, assim como se começa a viver. Nada disso!
Viver mata, é verdade, pois sabemos à partida qual o nosso destino, o fim. Mas mais que isso, viver mata aos poucos. Mata alguns sonhos e algumas esperanças, mata alguns pensamentos e outras tantas palavras, mata acções e inércias. Viver é matar digamos. Pois sem essas pequenas mortes nunca avançariamos, seriamos um estorvo a nós próprios com uma montanha de lixo psicológico dentro de nós. Assim como a memória se quer vasta mas selectiva, também a vida se quer vivida e assassina. Não entremos em estremismos, caracteristicos da palavra assassina, mas encaremos essa palavra de forma leve, assim como os pequenos assassinatos que temos de fazer a nós próprios para conseguirmos mudar.
Quantas vezes oprimimos uma opinião para não ferir alguma suscetibilidade à mesma? Não é matar um pouco da nossa personalidade nesse momento?
Quantas vezes calámos um sentimento para não nos magoarmos? Não é matar um pouco do que é mais nosso?
Existem tantos exemplos... mas a idéia está dada... Podemos chamar-lhe o que quisermos, crescimento, evolução, herança genética, defeito, qualidade. A verdade é que quando estamos a optar, em algo que só nós podemos controlar, estamos a fechar, a matar o outro caminho... e a vida é feita de caminhos e de assassinatos... que esses... esses são feitos por nós e para nós... até ao fim certo. Viver Mata!

escrito por Rogério Junior às 01:10.


terça-feira, novembro 15, 2005


"Ele há coisas..." V

E ao quinto momento fecha-se o circulo, pois são cinco os chamados "meus fiéis leitores".
E este último será o primeiro ou não seja assim que se forma um circulo... com o final a unir-se ao inicio. Tenho de confessar que o que em baixo transcrevo não me foi enviado com a objectividade dos anteriores... publicar.
Foi-me enviado ao jeito especial deste leitor... na sua maneira bem surpreendente que me cativa...
E transcreve o que por aqui se escreve - Palavras - Sejam elas roucas, gritantes, ousadas, tristes, sentidas, livres, completas ou indeterminadas... são palavras...somente palavras, serão sempre...palavras...


"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte. "

Alexandre O'Neill


Obrigado pela partilha...

escrito por Rogério Junior às 22:08.


domingo, novembro 13, 2005


"Ele há coisas..." IV

O "Ele há coisas..." é dele ... do meu 4º leitor. E no mesmo dia em que escrevo uma carta à Vida, ele brinda-me com algo... surpreendente...
É caso para invocar as palavras de um sábio - "Se nada te surpreendeu durante o dia, é porque não houve dia".
Sem esquecer que hoje é dia 13 claro!

Cá está:

"Esta que se dá pelo nome de Vida, que que começa e acaba com lágrimas sempre à nossa volta, ao que parece, sem que nos possamos consciencializar disso, sem que tenhamos opção de escolha. Certamente, por isso e muito mais, é que a devemos valorizar, aproveitar, abusar, enquanto é tempo, pois já me dizia (repetidamente) uma amiga com quem me cruzei pela vida:
“Aproveita o tempo enquanto é tempo, pois há-de vir o tempo que leva o tempo.” E aí, já era. Pois o bilhete (como podem confirmar no vosso), é de ida e volta.
Assim:

A vida é uma oportunidade, aproveita-a.
A vida é beleza, admira-a.
A vida é beatificação, saborei-a.
A vida é sonho, torna-o realidade.
A vida é um desafio, enfrenta-o.
A vida é um dever, cumpre-o.
A vida é um jogo, joga-o.
A vida é preciosa, cuida-a.
A vida é riqueza, conserva-a.
A vida é amor, goza-a.
A vida é um mistério, desvela-o.
A vida é promessa, cumpre-a.
A vida é tristeza, supera-a.
A vida é um hino, canta-o.
A vida é um combate, aceita-o.
A vida é tragédia, domina-a.
A vida é aventura, afronta-a.
A vida é felicidade, merece-a.
A vida é a VIDA, defende-a. "

Obrigado Daúde pela partilha...

escrito por Rogério Junior às 23:55.



Momentos que leio

Decidi partilhar convosco alguns dos momentos que leio, blogues perdidos nesta imensa blogosfera que valem bem a pena ler...

Estão mesmo aqui ao lado -->

escrito por Rogério Junior às 14:58.



uma carta

Há quem escreva cartas ao pai natal, à fadinha dos dentes ou a um amigo imaginário, eu lembrei-me de te escrever, que estás sempre presente...

Hoje acordei contigo no pensamento, cansado de tudo e sem a força suficiente para me abstrair de tais recordações. Deixei-me então levar pela inércia que me abraçava e coloquei-me à escuta, no intuito de aprender, que tudo o que acontece tem uma razão...

Tentei comparar-te a algo e surgiu-me a ideia de um barco, não sei bem porquê mas pareceu-me apropriado. Sinto que te estou a levar por dentro de um canal. Já pensaste naquelas cidades repletas de canais? São cidades lindas, mas a àgua é sempre a mesma, os barcos que lá "navegam" têm sempre o mesmo percurso, conhecem todos os obstaculos, não há dificuldades...numa expressão popular dir-se-ia que "conhecem o caminho", tão fácil que ele parece. Por muitas voltas que um barco dê nos canais não chega a lado nenhum, é como um labirinto sem final, uma encruzilhada sem rumo. E é assim que eu te levo, navegando num canal de uma cidade qualquer, sem qualquer obstaculo de maior.

Queria ter a força para te colocar num rio, para te deixar navegar um pouco ao sabor da corrente, para descobrir novos obstaculos, com um rumo, o do mar, o desaguar, e encontrar um propósito... A cada minuto uma margem que muda, a cada segundo algo a ultrapassar... Estou cansado destas paredes que me encerram, dentro deste canal é sempre tudo igual. Quero ver as paisagens e o sol lá fora.

E hoje que é Domingo no mundo não tenho a força para te levar a esse rio, mas tenho a idéia que é possivel, e isso basta-me. Vou traçar um plano perfeito para conseguir colocar-te a navegar num qualquer rio profundo...

Sim, é uma carta à minha vida.


escrito por Rogério Junior às 14:05.


sábado, novembro 12, 2005


a little of you

Oh these little rejections how they add up quickly
One small sideways look and I feel so ungood and
Somewhere along the way I think I gave you the power to make
Me feel the way I thought only my father could

Oh these little rejections how they seem so real to me
One forgotten birthday I'm all but cooked and
How these little abandonments seem to sting so easily
I'm 13 again am I 13 for good?

I can feel so unsexy for someone so beautiful
So unloved and for someone so fine
I can feel so boring for someone so interesting
So ignorant for someone of sound mind

Oh these little protections how they fail to serve me
One forgotten phone call and I'm deflated and
Oh these little defenses how they fail to comfort me
Your hand pulling away and I'm devastated
I can feel so unsexy for someone so beautiful
So unloved and for someone so fine
I can feel so boring for someone so interesting
So ignorant for someone of sound mind

When will you stop leaving baby?
When will I stop deserting you baby?
When will I start staying with myself?

Oh these little projections how they keep springing from me
I jump my ship as I take it personally and
How these little rejections how they disappear quickly
The moment I decide not to abandon me

I can feel so unsexy for someone so beautiful
So unloved and for someone so fine
I can feel so boring for someone so interesting
So ignorant for someone of sound mind
So unsexy

Alanis Morissette

because i was not waiting for...
because it seemed beautiful to me...
because...
because nor everything has a reason...

escrito por Rogério Junior às 22:17.



"Ele há coisas..." III

Sábado à tarde. Nada para fazer. Caixa de e-mail vazia. Primeiro café a ser bebido. Outro cigarro apagado!

Sábado à tarde. Nada para fazer. Caixa de e-mail com uma surpresa. Uma partilha. Um "fiél leitor" que se lembrou de mim:

"O agora. Este momento. Este segundo. Normalmente só nos apercebemos a grandeza de um pequeno momento quando ele já passou. Aquele segundo em que você viu uma flor e decidiu oferecer-lhe 250. Aquele segundo em que você descobriu que o pai da sua namorada tem um capachinho. Aquele segundo em que você descobriu que um mergulho em “bomba” era a coisa mais engraçada do mundo, mas que as suas tias, completamente encharcadas, não achavam piada nenhuma. Aquele segundo, há não sei quantos anos, em que uma senhora ofereceu uma bolachinha e você respondeu “forreta”.
São segundos, são minutos, felizmente ao todo são muitas e muitas horas da sua vida. São momentos que nunca se repetem. Por isso, é preciso vivê-los como tal: sem igual. Coleccione-os, prolongue-os, mas não ignore o mais pequeno sinal.
Provavelmente vem aí um grande momento. Viva o melhor da sua vida.
Viva o momento.
Now "

Sábado à tarde. Muito a fazer. Segundo café a caminho. A força necessária na idéia.


Obrigado Thor pela partilha...

escrito por Rogério Junior às 15:02.


quinta-feira, novembro 10, 2005


Transcrevendo (parte V)

A Wikipedia, enciclopédia livre "online" que se dedica a temas de cultura, geografia, história, matemática, pessoas, sociedade, ciência e tecnologia, tem duas entradas muito particulares, na versão em língua inglesa, sobre temas da cultura e das virtudes de Portugal e dos portugueses: o "desenrascanço" e a "tanga". O "desenrascanço" é o oposto do planeamento, a "tanga" (tradução aproximada: 'bullshit') é dizer algo do senso comum ou vulgar num tom conhecedor e solene.
E aqui estão mais duas ideias associadas na arte de ser português, pois a "tanga" faz parte da técnica de resolver problemas por via do "desenrascanço".
Dizem os novos enciclopedistas que o objectivo do "desenrascanço" se considera atingido quando resulta "numa hipotética solução suficientemente boa".
Se a solução falha, até porque há sempre um novo "desenrascanço" para "desenrascar" o "enrascanço" anterior. É questão e mais ou menos "tanga". E, como assinala a enciclopédia, "a maioria dos portugueses acredita convictamente ser esta uma das suas virtudes mais valiosas e uma parte viva da sua cultura".
Viva e ancestral. Conta-se que nos séculos XVI e XVII as embarcações das potências marítimas levavam sempre um português a bordo. Porquê? Porque os portugueses eram já então reconhecidos especialistas nas artes do "desenrascanço". E no alto mar, entre perigos e guerras que iam além da força humana e da Taprobana, eram muitos e inesperados os "enrascanços". Há historiadores que consideram que isso é mais uma "tanga" dos portugueses. O que é certo é que o "desenrascanço" e a "tanga" até já vêm na enciclopédia, chegaram aos nossos dias e alargaram o seu âmbito a todos os domínios.
Como canta o José Mário Branco, "quem não pode, desenrasca". É um fado, em dó menor.

João Paulo Guerra in "Diário Económico"

escrito por Rogério Junior às 15:59.


terça-feira, novembro 08, 2005


um meio

Delírio número 49, somado dá 13, eu e a mania das contas, soma aqui diminui ali e está feito, um número que me agrade, como se fosse um presságio, que lá no fundo sou supersticioso...
Tenho sempre comigo alguns amuletos, tenho sempre comigo coisas que me dizem qualquer coisa e que acho me dão sorte...
Sem saber que a sorte somos nós que a fazemos, a Vida somos nós que a escrevemos, são apenas pequenos escapes e agarro-me a eles como se fizessem o meu destino... triste desengano que me persegue... Assim como a minha consciência mas essa não a posso deixar em casa, não me consigo desapegar dela, por nada, nem que queira... resta-me fazer tréguas com ela e tentar conciliar o seu livre arbítrio com o meu e juntos criar... um meio de sobrevivência...
Escrevo quase sempre no plural, como se fosse uma multidão que me gritasse, como se estivesse a falar comigo próprio e com mais alguns..talvez infortúnio do signo astrológico que me guiará para sempre... talvez uma forma de me fazer ouvir...
Mas é um auto-engano, se grito para mim mesmo são apenas sussurros que oiço, que os grandes pensamentos se fazem em silêncio e gritam numa surdina louca.

Tu que me lês sei que sabes do que falo, tu que agora passeias os olhos em cada palavra que escrevo sei que me entendes, deixa-te ficar então mais um pouco que estou mesmo a terminar...

Deixa-me gritar agora e saber que não o faço em vão!

Deixa-me olhar de relance para trás...deixa-me dizer-me que sou capaz!

escrito por Rogério Junior às 21:36.



Transcrevendo (parte IV)

Não acontece apenas que certas pessoas têm memória e outras não (...), mas, mesmo com memórias iguais, duas pessoas não se lembram das mesmas coisas. Uma terá prestado pouca atenção a um facto do qual a outra guardará um grande remorso, e em contrapartida terá apanhado no ar como sinal simpático e característico uma palavra que a outra terá deixado escapar quase sem pensar. O interesse de não nos termos enganado quando emitimos um prognóstico falso abrevia a duração da lembrança desse prognóstico e permite-nos afirmar em breve que não o emitimos. Enfim, um interesse mais profundo, mais desinteressado, diversifica as memórias das pessoas, de tal modo que o poeta que esqueceu quase tudo dos factos que outros lhe recordam retém deles uma impressão fugidia.
De tudo isso, resulta que, passados vinte anos de ausência, encontramos, em lugar de esperados rancores, perdões involuntários, inconscientes, e, em contrapartida, tantos ódios cuja razão não conseguimos explicar (porque esquecemos também a má impressão que causámos). Até da história das pessoas que conhecemos melhor esquecemos as datas.

Marcel Proust, in 'O Tempo Reencontrado'

escrito por Rogério Junior às 11:35.



A Vida

Há alturas em que sentimos uma força imensa, capaz de fazer passadeiras onde antes existiam barreiras, capaz de mover o mundo e mais quem vier... É nessas alturas que escrevemos os nossos mil planos e outros tantos sonhos, é ainda nessas alturas que desafiamos o mais negro do nosso (sub)consciente e que o tornamos branco e limpido...
Mas como é sabido depois de subir temos de descer... E esse céu azul torna-se cinzento e frio, as barreiras voltam e parecem-nos maiores, intransponiveis, eficazes. O mundo deixa de ser movido por nós para sermos apenas mais uma roda dentada de uma sociedade acelerada e (não) evoluida. E é nesses instantes que percebemos porque é que é mais fácil pintar algo de negro do que de branco, porque é que chamam sonhos aos sonhos e planos a idéias fugazes...
E é nessa queda, quase sempre vertiginosa, que nos apercebemos o quão alto tinhamos subido, e o quanto nos custa descer, resta-nos então uma última força, um último sopro para nos mantermos a uma altura suficiente para respirar, e enquanto caímos acabamos por descobrir que nos esquecemos de inspirar, de guardar uma réstia de folego para eventualidades... Porque elas não existem nos nossos sonhos, porque elas não existem no nosso (sub)consciente, porque o mundo é azul sem margem para dúvidas...
Conclusões? Fácil!
Que a Vida não seja um céu esplendoroso e azul, nem um céu carregado e cinzento mas sim um arco-iris!
Só num arco-iris estão presentes as lágrimas e os sorrisos... só num arco-iris estamos completos!
Carpe Diem

escrito por Rogério Junior às 01:55.


segunda-feira, novembro 07, 2005


"Ele há coisas..." II

Mais uma vez a minha caixinha de e-mail tinha uma surpresa para mim...
Mais uma vez um dos fiéis leitores...
Mais uma vez um texto perfeito e de um conhecido escritor do nosso país...


Miguel Sousa Tavares
(a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner)

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."


Obrigado Cris pela partilha...

escrito por Rogério Junior às 20:41.


sábado, novembro 05, 2005


"Ele há coisas..."

Abria eu a minha caixinha de correio virtual, a ver o trabalho pendente, as piadas e as notícias quando me deparei com um e-mail de um dos meus cinco leitores...
O texto não é original, é de um escritor bem conhecido do nosso país mas é perfeito... e como sempre vem numa altura em que é-me dificil dizer "coincidência".
"Ele há coisas..." - Como diz um amigo meu referindo-se ao destino.

Então deixo-vos o texto escrito pelo Miguel Esteves Cardoso no jornal Expresso:

ELOGIO AO AMOR

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo deantemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amorpassou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam"praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas ,farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Jáninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Nãoé para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, apausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso"dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é umfim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe,não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


Obrigado Luazina pela partilha...

escrito por Rogério Junior às 13:16.


quinta-feira, novembro 03, 2005


...

E há instantes em que o silêncio nos consome, que o poder dos pensamentos nos absorve e nos corrói, que a noite não nos completa mais e a música não faz sentido, só confusão...

Há momentos flagrantes
Em que o tempo é eterno
Há vestígios do Verão
Que o Outono não pode apagar
Há encontros que ficam
Na nossa memória
Onde a luz é difusa

As lágrimas que não correm são as que matam, as que não se extiguem são as que destroem... lentamente... como pedaços de nós... Em que as letras não fazem palavras, nem as palavras já feitas fazem frases com sentido... São apenas delirios...



Um dia tudo acaba
Sem perceberes porquê,
Num acorde de guitarra
Vês o mundo
Mas ninguém te vê.
As sombras
Que falam,
Te ouvem
E dizem:«Eu sou a noite».

Então sentes o frio
Duma qualquer cidade aberta,
Sabes que as ruas estão contigo,
Só o teu corpo está em parte incerta.
O vento
Que gritas,
Mais alto
Que o nome,
Que o medo de ti...

Desenhos,
Desejos,
Nos lábios,
No sangue
Duma parede qualquer.
E sobre a mesa um mar fechado,
Uma aguarela feita de luz,
Um passado nunca acabado,
E um beijo que alguém depôs.
Palavras,
Traídas,
Que fogem
E dizem:«Não me deixes nunca».

Aqui o tempo não é tempo,
É só um chão que ninguém pisou,
Trazes um louco no pensamento
E um Verão que se eternizou..
Estradas
Que soltas
Dos olhos,
Dos mundos
Que trazes em ti...

Desenhos,
Desejos,
Nos lábios,
No sangue
Duma parede qualquer.
Há um mágico
Que não cabe nas tuas mãos,
Trá-lo no peito
Com a força do trovão.

E cada passo
É mais distante do que o que vês,
Talvez bastante,
Talvez discreto
Para mostrar quem tu és.

...

escrito por Rogério Junior às 23:41.


terça-feira, novembro 01, 2005


Slogan (III)

"Foi numa segunda-feira. Eram mais ou menos 9 da manhã. Eu estava sentado num dos bancos de um comboio. São todos iguais, tal como são so comboios que apanho todos os dias para ir trabalhar, mas naquela manhã tudo ficou diferente. À minha frente sentou-se uma figura. Feminina, bela, distinta, com uns óculos que lhe conferiam elegância. Eu tirei os olhos do jornal que lia e fixei-os nela, sem de lá mais saírem. E foi assim durante uma paragem, duas, três, quatro, cinco. Os dela percorriam descontraidamente a paisagem lá fora.
A meio da viagem, ela correspondeu: olhou-me e sorriu. Timidamente sorri e olhei para o chão.
Quando levantei de novo o olhar, ela também já se levantava. A sua paragem tinha chegado. De costas para mim, senti um último olhar. Ela saiu e nunca mais voltou a entrar nos meus dias. E se eu tivesse dito uma palavra, uma frase, o que teria acontecido?"

viva o momento
now


A vodafone sempre a surpreender-me

escrito por Rogério Junior às 15:28.


Sobre mim

Tenho 21 anos. Escrevo por gosto e por necessidade. Acredito nos sonhos e tenho alguns. Sou apaixonado pela Vida e pela Arte. Já escrevi poemas, canções e algumas palavras presas. Escrevo momentos. Alguns em delirio. Nunca editei um livro.

Outros devaneios

Rogério Junior . com

Momentos que leio

Alcomicos Anónimos
Anjos Caídos
Alguém
Algures Aqui
Apenas mais um
A Voz
Blogue Aberto
Charquinho
Cromossomas Lendários
Despreocupadamente
É a cultura, estúpido
Estado Civil
Fábrica dos Sonhos
If only you knew...
Intimidade Indecente
Intimidades
Lua de Inverno
Mais cidade que sexo
Muito à frente
O Fugas
O meu refúgio
Pedacinhos de Estrelas
Pedaços de Papel
Rascunhos (gritos mudos)
Rasga-me as palavras
Salada de Letras com Maionese
Será o Amor impossivel?
Tudo o Que Tenho Em Mim
Um dia de cada vez
Um Rumo
Urso Maior
(des)fragmentações

Momentos anteriores

O fim dilui-se?
Fim.
devaneios reais...
arte?
sem som...
pedaços...
mais um sábado...
musica?
Transcrevendo (parte XIV)
3 - 2

Momentos de outros meses

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