sexta-feira, dezembro 30, 2005


um pouco de céu...

Só hoje senti
que o rumo a seguir
levava pra longe
senti que este chão
já não tinha espaço
pra tudo o que foge
não sei o motivo pra ir
só sei que não posso ficar
não sei o que vem a seguir
mas quero procurar

e hoje deixei
de tentar erguer
os planos de sempre
aqueles que são
pra outro amanhã
que há-de ser diferente
não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu

só hoje esperei
já sem desespero
que a noite caísse
nenhuma palavra
foi hoje diferente
do que já se disse
e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim

não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
Mafalda Veiga

escrito por Rogério Junior às 22:20.



3 comemorações

1:

E vão três meses de "Momentos em Delírio - Momento sem Delírio", textos escritos e transcritos, partilhas e sensações, lágrimas e sorrisos, instantes profundos e momentos inesqueciveis escritos e descritos com algum rigor, com um pouco de delirio e muita realidade...
Durante esses três meses muita coisa mudou, dei-vos a palavra não só na caixinha de comentários mas também no "corpo" do blog. Esse convite continua feito, porque mais do que escrever gosto de ler. Transmiti poemas e com eles sensações, partilhei imagens e com elas emoções... Dei-vos um pouco de mim, fiz-me conhecer em algumas palavras... e sei que muitas vezes alguns de vós se identificaram com as palavras, porque a minha vida é feita por mim e por todos vós... Em jeito de comemoração vous deixo o meu mais sentido agradecimento... por existirem no meu mundo!

2:

E por um acaso, quase coincidência este é o "escrito" numero 100... um marco que não imaginava chegar, pois conhecendo-me sabia que rápidamente iria chegar a um ponto em que desistia... Mas aconteceu-me o contrário... cada vez gosto mais deste cantinho, continuo a identificar-me com ele... e vão 100! Venham outros 100...

3:

Num estilo editorial algo diferente e bastante mais light fez hoje um mês que nasceu o "Despreocupadamente"... os meus parabéns para esses oito despreocupados que mantém e criam a arte e a diferença nesse cantinho...

escrito por Rogério Junior às 15:37.


quinta-feira, dezembro 29, 2005


encontros...

Uma mesa de café. Quatro amigos. Quatro copos cheios. Uma conversa.

Já há muito que não se encontravam, os rumos são dispersos e os caminhos bem diferentes. Recordam momentos e programam outros tantos. Todos sabem que voltarão à sua vida e não seguirão nenhum dos momentos programados.

Uma mesa de café. Quatro amigos. Quatro copos vazios. Quatro conversas paralelas.

Cada um quer falar de si e ninguém consegue escutar, as estórias são mais de muitas para contar, os tempos idos e as peripécias da vida.

Uma mesa de café. Quatro amigos. Quatro copos cheios. Uma conversa.

Despedem-se com votos de um reencontro para breve. Todos mentem, sabem que esse breve vai demorar um ano.

Uma mesa de café. Quatro cadeiras vazias. Quatro copos vazios. O silêncio instalou-se.

escrito por Rogério Junior às 23:56.



Ano novo

Ano novo, Vida nova... diz o cliché já instalado em diversos espaços publicitários... É antiga a frase e talvez por isso não muito seguida nos dias que hoje correm... Pensando bem é só mais um dia que passa, não temos uma pausa profunda, nem um sono diferente... uma noite diferente e pouco mais.
Este ano vou aproveitar-me do cliché para programar já de antemão algumas mudanças, mesmo correndo o risco de não as concretizar... Idéias tenho sempre, a força para as colocar em prática nem sempre... Lembrei-me de as escrever, de apontar numa agenda (esse livrinho fatidico que nunca consegui arranjar) e organizar-me... Talvez procure comprar uma brevemente...
Não procuro uma Vida nova, é demasiadamente evidente que gosto da minha (e mudar de vida assim só na canção), mas mudar alguns dos pilares, alguns dos objectivos (encontrar alguns também) e chegar ao fim do ano a pensar que foi proveitoso...
O futuro é feito do passado e nesta última semana tenho-me lembrado bastantes vezes dele, porque é nesta última semana do ano que faço o balanço... e, confesso, até há data é positivo... mas o mais importante de tudo é ser extenso, que viver sem teor não é viver é sobreviver... e o ano que agora termina foi, sem qualquer dúvida, bastante controverso... o que muito me apraz...

Hoje regresso a cada mês que passou e ora largo uma lágrima, ora um sorriso... sinto-me bem!

Feliz ano novo!

escrito por Rogério Junior às 02:10.


quarta-feira, dezembro 28, 2005


festas...

Findaram-se as festas do natal, também conhecidas pelas festas da familia em que todos se juntam e partilham momentos, sentimentos e muita paz, em que todos estão felizes e contentes e aproveitam a ocasião para trocar algumas prendas, sempre escolhidas com imensa delicadeza e amor... ou será que é o contrário...que se findam agora as festas do consumismo exagerado e de um stress de últimas horas para comprar as prendas apressadamente para os familiares que afinal sempre aparecem para a noite de consoada. Nessa noite aproveita-se para contar um pouco do nosso dia a dia, já que a familia é o que menos interessa nos restantes dias do ano, e partilhamos assim um pouco de nós com as pessoas que deveriam ser, durante os restantes 364 dias, a nossa principal prioridade... Pela madrugada volta-se a casa, cheios de sacos, e com mais algumas recordações para guardar...
Engana-se quem pensar que sou contra o natal ou as ocasiões festivas em familia, pelo contrário, o natal é sempre demasiadamente especial para mim, e talvez a única altura do ano em que a minha grande familia se junta toda e comemora, partilha a paz e verdadeiros sentimentos sem qualquer capa falsa... aprecio o natal por isso (talvez devido a esse facto compre sempre as prendas na última hora, porque realmente não é o mais importante...)
Mas nem com o embalo do natal se chega á outra comemoraçao seguinte com o mesmo espirito (como é fugaz esse sentimento de partilha e paz) e abandona-se rapidamente a familia para nos juntarmos a uma multidão ensurcedora e comemorarmos sem qualquer preocupação a passagem para um novo ano... São festas tão próximas e tão diferentes... Que estranho mundo em que vivemos!

escrito por Rogério Junior às 23:57.


domingo, dezembro 25, 2005


Transcrevendo (parte XI)

"Podemos morar numa casa mais ou menos, numa rua, mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.
Podemos dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigados a acreditar mais ou menos no futuro.
Podemos olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos, tudo bem.

O que nós não podemos mesmo, nunca, de maneira nenhuma, é amar mais ou menos, é sonhar mais ou menos, é ser amigo mais ou menos, é namorar mais ou menos, é ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.

Senão corremos o risco de nos tornar uma pessoa mais ou menos."

Chico Xavier

escrito por Rogério Junior às 18:25.



Havia, Há e haverá!

Havia uma cadeira vazia que não foi preenchida. Havia um prato que permaneceu limpo. Havia uma saudade que não foi apaziguada. Havia um desejo de te abraçar que ficará para sempre.

Há um momento em que sorrio a pensar em ti. Há horas em que me contam as tuas aventuras. Há instantes em que me apetece contar algumas das nossas. Há imagens que me fazem chorar.

Haverá amor por ti para todo o sempre. Haverá sempre um sorriso e uma lágrima por me lembrar de ti. Haverá sempre um pouco de ti em mim e um pouco de mim que está contigo.

escrito por Rogério Junior às 18:16.



O 5 de espadas

"E a única vida que temos é essa que é divivda entre a verdadeira e a errada." - Pessoa

Pensamos sempre que somos menos transparentes do que realmente somos, e acabamos por ficar felizes quando um Alguém descobre um pouco dessa nossa (não) transparencia e nos surpreende de uma forma tão natural que ficamos sem saber como reagir.
Surpreendeste-me de uma forma leve e precisa, e eu aguardei essa mesma surpresa até há poucas horas, para saborear, para colocar a fasquia bem alta e não me desiludi, bem pelo contrário...
Se costumo pensar para comigo que tu és uma pessoa muito especial, sempre camuflada numa capa espessa que raras vezes levantas para que se possa descobrir a tua real essência, hoje digo-o a quem me quiser ler...

Um obrigado e um sorriso seria pouco, deixa-me brindar-te com algumas palavras também:


Sentes que o corpo vence,
Sentes o chão estreito,
Dizes que o mundo não pára,
Balança no teu peito.
Sentes que as mãos são asas,
Que tudo o resto é céu,
Voas os olhos fechados,
Num tempo que é só teu.

E tudo à volta dá vontade de partir,
De encontrar alguém
Também pronto a fugir,
Sair daqui.

Em qualquer lugar
É bom p’ra estar
Longe do mundo,
Em qualquer lugar
É bom p´ra estar,
P´ra fugir do fundo.

Sentes que a noite acaba
Perto da solidão,
Vês o prazer dos outros
E vais dizendo não.
Sentes o vento na cara
Como a primeira vez
E ao tocares-te na pele
Descobres quem tu és.
E tudo à volta dá vontade de partir,
De encontrar alguém
Também pronto a fugir,
Sair daqui.

Abrunhosa

escrito por Rogério Junior às 17:45.


terça-feira, dezembro 20, 2005


Ary dos Santos

A cidade é um chão de palavras pisadas

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

escrito por Rogério Junior às 23:01.


domingo, dezembro 18, 2005


just words

vida . perigo . pensamento . acção . palavra . passado . presente . futuro . silêncio . som . momento . tempo . amor . alma . vida . amargura . cura . espaço . força . sexo . delirio . refúgio . sonho . ódio . ilusão . sabor . sentimento . riso . movimento . promessa . mudança . esperança . noite . linha . nascente . suportar . solidão . olhar . vicio . simular . poder . parar . realidade . poema . morte

escrito por Rogério Junior às 21:14.


sábado, dezembro 17, 2005


ver


Há dois tipos de cegos neste mundo, os invisuais, que procuram toda uma vida conseguir ver, um desejo que reprimem todos os dias e que mantêm secreto tentando transparecer um sorriso nos lábios e uma palavra sempre simpática como se estivessem satisfeitos com a realidade que têm. E os cegos que não querem ver, embora toda a luz esteja diante deles, recusam-se a ver o que mais claro é. Recusam-se a ver, no sentido metafórico claro, o presente tentando estar sempre um passo mais à frente e vendo só um suposto futuro que não existe nem que nunca existirá enquanto não o conseguirem conjugar no presente.
É perda de tempo tentar olhar para um cristal, seja qual for a sua forma, e tentar ver o futuro promissor que esperam ter. O futuro é feito do presente do passado. E só a esse tempo que não tem instância é possivel prever alguma coisa, pois só nele nos encontramos, embora sempre com um pé para trás e outro para frente (por isso tantas teorias dizem que o presente não existe - não tem instância) é nele que temos de apostar.
Podemos controlar quase tudo o que fazemos mas nunca o fazemos, somos escravos do que precisamos e tentamos insistemente prever o futuro e fazer os planos nesse tempo não definido. Desistimos de ver, tornamo-nos cegos pela nossa própria mente... conscientemente... Como se dizia... "Mais triste que um cego é o que não quer ver".

escrito por Rogério Junior às 19:52.



moralidade

Cansei-me de andar sempre cheio de moral a dizer para as pessoas aproveitarem o tempo, para viverem o momento e que a vida não é assim tão má como se pinta. Para ser sincero não me cansei desses pseudo-conselhos que nunca são ouvidos.
Do que me cansei realmente foi de estar sempre cheio de moralidades na terceira pessoa e não as executar na primeira. Muito embora nunca me tenham contra-argumentado com essa verdade eu sei a veracidade de tais factos, e moral na terceira pessoa é o que nós todos temos em demasia. Últimamente nem para essa moral me sinto capaz porque tenho a noção de que não sou um exemplo para ninguém.
Felizmente que ainda tenho os neurónios suficientes para descobrir, por mim próprio, que para mudar essa situação basta-me querer e convencer-me a mim próprio os "valores" que tento incutir aos que me rodeiam. Faço muitas vezes contas do quando e do para quando, acabando sempre por ludibriar a minha consciência que grita vezes sem conta - para já - adoptando o pensamento de que é para amanhã ou para quando Jupiter estiver alinhado com a Lua ou qualquer coisa de que me lembre na altura, e como tenho a (in)felicidade de ter uma imaginação fértil consigo sempre adiar mais um pouco.
Do único que tenho medo, ou pena, é que este momento que agora escrevo e interiorizo não passe de isso mesmo, de um momento, ou pior que seja um momento em delirio fruto de uma noite mal dormida e de uma manhã fria..
Mas a esperança de que assim não seja é mais forte do que esse pensamento que agora me corroi o espirito... e como me disseram um dia - "A Vida é feita de momentos", e esses momentos cabe-nos a nós prolongar o tempo suficiente para de que destes se possa construir algo...

escrito por Rogério Junior às 13:36.


sexta-feira, dezembro 16, 2005


O Amor quando se revela!

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa

escrito por Rogério Junior às 14:30.



Ultimamente

... não tenho escrito. Nem as luvas me aquecem os dedos, nem o gorro o pensamento - desculpa que usaria para me convencer a mim mesmo. Não é o caso. Estaria, também, a mentir se dissesse que nada me ocorre para escrever, ideias, momentos e pensamentos fugazes nunca me faltam, ou não seja o mundo um lugar insano e a vida uma aventura surpreendente.
A verdade é que os momentos (s)em delirio são isso mesmo, não têm agenda (como eu não tenho mas é uma história antiga) nem hora marcada, simplesmente acontecem... e últimamente não os tenho transcrito deixando-os perdurar apenas na minha memória selectiva que não me tem falhado... Acabei por descobrir que um cantinho como este é também um vicio... e vicios já tenho os que me chegam (ou não), portanto vou passar a abri-lo apenas quando me apetecer mesmo escrever...
Nestes últimos tempos (lamento não consigo precisar quanto) abria primeiro a janela e depois vinha a idéia deixando os momentos (s)em delirio mais organizados, especificos... qualquer coisa por aí.
Embora esse tipo de texto me dê imenso prazer escrever não foi esse o intuito deste refúgio - pelo menos primordial - mas sim o devaneio solto e (in)pensado próprio do "momento"...
Espero é não ter insónias um dia destes e deixar dez, quinze delirios por aqui de uma assentada só... mas isso também não posso prometer... (percebe-se a idéia)

escrito por Rogério Junior às 00:14.


quinta-feira, dezembro 15, 2005


Transcrevendo (parte X)

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

escrito por Rogério Junior às 23:35.


segunda-feira, dezembro 12, 2005


mais tarde!

Coloquei o gorro, subi a gola, calcei as luvas... vestuário de uns outros tempos... Noites passadas em claro a dialogar em azul e rosa, a trabalhar nos intervalos, tempos em que não parava para um cigarro nem para mais um trago... Esse passado que não volta, embora o vestuário seja o mesmo.
O Serão é diferente, sem dúvida, agora é mais trabalho e menos diálogo, fruto de um crescimento saudável e necessário, a pausa para o cigarro faz-me descansar, talvez ilusão da cortina de fumo que me sufoca nesse momento, agora necessário...As letras garrafais que foram implantadas na caixinha que os suporta faz-me pensar... Porque há palavras às quais não damos qualquer importância até um especifico som, sabor ou instante as integrar... Não tenho bem a certeza se hoje ou ontem, o tempo últimamente voa, num diálogo banal enquanto tentava incutir a minha idéia do "viver Mata" me foi dito, assim sem grande cerimónia, que eu estava certo, o fim da vida é a única certeza que temos nesta curta existência mas que há sempre dois caminhos, e que eu estava a tentar ir pela auto-estrada...

Perco-me em noites de fumos espessos
Copos de uma qualquer bebida colorida
Sem perceber o trajecto em que vou
São instantes fugazes de prazer
Que insisto em perdurar...

Sei que é a pura realidade e sou o único com poder para mudar de estrada, deixo para mais tarde, este cigarro está a saber-me bem... faz-me descansar...

escrito por Rogério Junior às 20:57.



O Refúgio do Poeta!

Foi encerrado esse velho refúgio, que me abrigou durante bastante tempo e que me deu imenso prazer criar e renovar... mas como em tudo na vida há sempre um fim e o do refúgio do poeta terminou hoje...
Já há algum tempo que encontrei outro, este que agora lês, feito de momentos com e sem delirio, com um pouco de mim... com um pouco de todos vós!

Obrigado a todos os que entraram no "O Refúgio do Poeta", aos que escreveram algumas palavras, que sorriram, que choraram, que pensaram ou que simplesmente visitaram...

escrito por Rogério Junior às 15:30.


sexta-feira, dezembro 09, 2005


conceitos

Tudo em nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo
é modificar o mundo para nós, isto é, é modificar o mundo, pois ele nunca será,
para nós, senão o que é para nós.
Fernando Pessoa

escrito por Rogério Junior às 10:47.


quinta-feira, dezembro 08, 2005


Demónios Interiores

Sentei à minha mesa
os meus demónios interiores
falei-lhes com franqueza
dos meus piores temores

tratei-os com carinho
pus jarra de flores
abri o melhor vinho
trouxe amêndoas e licores

chamei-os pelo nome
quebrei a etiqueta
matei-lhes a sede e a fome
dei-lhes cabo da dieta

conheci bem cada um
pus de lado toda a farsa
abri a minha alma
como se fosse um comparsa

E no fim, já bem bebidos
demos abraços fraternos
saíram de mansinho
aos primeiros alvores
de copos bem erguidos
brindámos aos infernos
fizeram-se ao caminho
sem mágoas nem rancores

Adeus, foi um prazer!
disseram a cantar
mantém a mesa posta
porque havemos de voltar
Jorge Palma

escrito por Rogério Junior às 10:12.


quarta-feira, dezembro 07, 2005


Curvas?


A estrada da vida é só uma? E se em vez de cruzamentos forem apenas curvas? Será que existe mesmo um destino traçado, e quando insistimos em inventar novos caminhos estamos apenas a aproximarmo-nos da berma desse mesmo destino?

escrito por Rogério Junior às 21:49.



Auto-gestão



Deixei-me levar pela maré, suavemente, sem fazer pressão na areia, e enquanto o mar ondulava eu sentia-me leve, com pouco com que me preocupar. De tempos a tempos uma onda rebentava mais perto, e sem muito esforço saltava sobre ela e continuava a planar sem ter sequer de tomar muita atenção. Parecia-me o mais acertado, e foi, deixou-me tempo para respirar, para fluir, para rir...
Coloquei a minha vida nesse mar, nessa maré, e submeti-me conscientemente a uma especie de auto-gestão planeada, não tinha a força suficiente para me agarrar ao chão, debaixo de mim era apenas areia que encontrava... e essa fugia-me sempre entre os dedos.
Teria sido um tempo útil se o tivesse aproveitado para reorganizar uma fuga capaz de me levar a bom porto, mas não o fiz. Deixei-me levar no marasmo que era bem mais fácil, e sem perceber acabei por perder essa oportunidade... Agora tento voltar a agarrar terra firme, e largar a velha habituação do me deixar levar... Aprendi, e ainda bem que aprendemos sempre algo, que não era bem esse rumo que queria levar (se é que estava a delinear algum rumo) para a frente... Espero ter a força suficiente para prender amarras numa qualquer enseada e por aí permancer, restituindo-me para mais tarde encontrar uma nova floresta (que a antiga já não me satisfaz) cheia de encruzilhadas, caminhos e opções...
Lá no fundo sei, e tenho a certeza disso, que as linhas mestras da minha vida serão as mesmas, essas eu não pretendo mudar, ainda me consigo olhar ao espelho, espero mudar as outras.... as que fazem os atalhos das principais, as que fazem as pontes... as que consigo transformar.

escrito por Rogério Junior às 02:25.



Amigos...

Este devaneio não leva a já usada frase do "Transcrevendo" porque é como que tivesse sido escrito por mim integralmente, ou como ouvi há algum tempo... há palavras escritas propositadamente para nós que nunca lemos...

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto a minha vida depende de suas existências …
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição encoraja-me a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não lhes posso dizer o quanto gosto deles. Eles não íam acreditar.
Muitos deles estão a ler esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E envergonho-me, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto a mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é porque a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
Não fazemos amigos, reconhecemo-los."

Vinicius de Morais

escrito por Rogério Junior às 01:35.


segunda-feira, dezembro 05, 2005


ilusões ou sonhos

Estava eu aqui sem fazer nada (já dizia o outro "não é para isso que te pagam"), quando de repente me aparece numa janela semi-virtual uma amiga, que por acaso nem é uma fiél leitora, a discordar do meu "original" nick... Costumo utilizar para nick frases, citações de um qualquer escritor famoso, ou palavras próprias, mas na altura o nick era: "Não abandones as tuas ilusões. Sem elas podes continuar a existir, mas deixas de viver."
A questão não era as ilusões mas os sonhos, ou a diferença, nem sei. Acabei por descobrir que nunca tinha pensado muito na diferença entre eles. Há, sem qualquer margem para dúvidas uma fina linha entre as ilusões e os sonhos. Sendo as primeiras fruto de uma imaginação coerente mas que sabemos que nunca se concretizará, embora necessitemos dessas pequenas ilusões para o nosso próprio bem-estar. Sem elas não teriamos a força para nos levantar todos os dias e para enfrentar o mundo, cada vez mais confuso, com um sorriso nos lábios. Era completamente impossivel, necessitamos da pequena ilusão de que o dia vai correr como nunca, que vamos acertar aqui, ali e mais à frente... São as nossas pequenas ilusões sadias que nos fazem mover.
Do outro lado temos os sonhos, idéias que podem muito bem acontecer, crediveis, fugazes, embora muitas vezes pouco realistas (ou não seja o sonho um antónimo da realidade), mas possiveis. Sim, sei bem que é o que nos move em quase todos os minutos em que pensamos como se não houvesse amanhã. São os sonhos que nos apimentam a vida de forma a podermos desejar vivê-la.
A ténue diferença entre uma ilusão e um sonho é quase imperceptivel para quem observa, apenas visivel, e bem visivel para nós que nos iludimos, que sonhamos...
O sonho e a ilusão são apenas duas pequenas cordas, entre as quais devemos conseguir equilibrar-nos...

escrito por Rogério Junior às 20:51.


domingo, dezembro 04, 2005


sempre as escolhas

Quantas vezes optamos e seguimos por caminhos que nos parecem acertados, porque nada é eterno estamos cá para escolher, decidir, jogar...
Hás vezes gostava de ter uma luz que se acendesse quando estou a fazer uma escolha errada, a optar por um caminho que não foi talhado para mim... que nem todos os caminhos são para todos os caminhantes... Essa luz nunca se acende, e as escolhas fazem-se na mesma, umas vezes erradamente, outras acertadamente... damos sempre mais de nós do que estavamos dispostos, e no fim resta tão pouco... Por vezes o preço a pagar é alto demais, não estavamos á espera que assim fosse... não medimos bem o salto e acabamos por não conseguir chegar à outra margem... Resta então conformarmo-nos em saltar, sempre, para o vazio com a esperança vã de atingir o outro lado...
Enquanto tiver esperanças, sonhos e ambições cá continuarei... que a vida é dura para quem é mole!

escrito por Rogério Junior às 22:11.



Transcrevendo (parte IX)

Incita esse teu amigo a animosamente não ligar importância a quem o censura por se acolher à obscuridade da vida privada, por desistir das suas grandezas, por ter preferido a tranquilidade a tudo o mais, apesar de poder ainda avançar na sua carreira. Mostra a essa gente que ele trata diariamente dos próprios interesses da forma mais útil. Aqueles que pela sua posição elevada suscitam a inveja geral nunca vivem em terreno firme: uns são derrubados, outros caem por si. Esse tipo de felicidade nunca conhece a calma, antes se excita sempre a si mesma. Desperta em cada um ideias de vários tipos, move os homens cada qual em sua direcção, lança uns numa vida de excessos, outros numa vida de luxúria, a uns enche-os de orgulho, a outros de moleza, mas a todos igualmente destrói.

Dirás tu: Há, todavia, quem aguente bem uma liberdade desse género". Pois há, assim como há quem aguente bem o vinho. Por isso não existe o mínimo fundamento para te deixares persuadir que alguém é feliz pelo facto de viver rodeado de clientes; os clientes não buscam nele senão o mesmo que buscam num lago: beber até fartar e deixar a água suja! "O vulgo julgá-lo-á um homem sem valor, sem actividade!" Bem, mas tu sabes como há pessoas que usam incorrectamente a linguagem e dizem tudo ao contrário. Anteriormente diziam-no um homem feliz. Pois bem, será que ele era mesmo feliz? Pode haver quem o julgue um homem de carácter demasiado duro e sombrio, isso não me preocupa minimamente. Diria Aríston que preferia um jovem taciturno aos jovens risonhos e bem acolhidos na sociedade. Também um vinho que a princípio parece espesso e áspero acaba por tornar-se excelente, enquanto aquele que na pipa nos parece agradável não suporta o envelhecimento.

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

escrito por Rogério Junior às 16:17.


quinta-feira, dezembro 01, 2005


Comemorações de ontem e hoje - final

E em poucas palavras vos digo...
Ontem comemorou-se também o nascimento de mais um blog... o "Despreocupadamente", e hoje o nascimento do "O Fugas"... ambos disponiveis no meu cantinho de "momentos que leio"... Tudo gente despreocupada, hábil, surpreendente, louca... enfim gente genial!

Bem Vindos!

escrito por Rogério Junior às 17:22.



Comemoração de ontem (II)

Sem dar por isso lá se passou mais um mesito de vida deste pequeno blog. Já lá vão dois desde que entre dois tragos de café me lembrei de escrever uns momentos em delirio e outros sem!

Ainda há pouco tempo uma amiga, e por sinal leitora, me disse que o blog tinha evoluido positivamente, bastante até. São coisas nas quais não reparo, porque confesso, não releio os textos que escrevo a menos que receba algum comentário aos mesmos e que por alguma razão queira contra-argumentar com base no texto.
Mas é verdade, o blog evoluiu, cresceu, mudou, enfim... como qualquer coisa viva... E este está bem vivo, para ficar, para durar... o tempo suficiente para ser inesquecivel... (digo eu)!
Ou sou eu apenas que estou sempre em mudança e o blog é apenas um espelho do meu (sub) consciente ?

Devaneios para mais logo sff!

Com este vão 74 momentos em delirio, é um balanço positivo, concerteza, pois quer dizer que existe mais de um único momento por dia em que me consigo abstrair do stress suficientemente para escrever, transcrever e ler!

Obrigado a todos os meus cinco fiéis leitores que me escutam atentamente!

escrito por Rogério Junior às 16:43.



Comemoração de ontem (I)



Fez ontem 70 anos desde a morte do Grande poeta Fernando Pessoa.
Poeta este que me inspira muitas vezes, seja pelo próprio ou pelos heterónimos... fragmentos de um Pessoa só!
Deixo-vos um poema do mesmo, assim sem jeito de comemoração, que me foi enviado deixando-me no mesmo estado de espirito que percorreu toda a vida do poeta...


Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.

Meu coração postiço e contrafeito
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.

Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem.

Fernando Pessoa

escrito por Rogério Junior às 16:25.


Sobre mim

Tenho 21 anos. Escrevo por gosto e por necessidade. Acredito nos sonhos e tenho alguns. Sou apaixonado pela Vida e pela Arte. Já escrevi poemas, canções e algumas palavras presas. Escrevo momentos. Alguns em delirio. Nunca editei um livro.

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